Recentes semanas têm sido marcadas por incêndios, secas e densas nuvens de fumaça no Brasil, embora tais adversidades não sejam exclusivas do território brasileiro. Em um contexto mundial de crise climática, incêndios catastróficos atingem a América do Sul, enquanto na Europa, inundações causaram a morte de mais de 20 pessoas.
No continente asiático, um tufão na China resultou em mais de 100 fatalidades, e enchentes devastadoras também ocorreram no Sudão, na África. Esses desastres sublinham a severidade das mudanças climáticas afetando várias áreas globais.
A fumaça dos incêndios que consomem vastas áreas no Brasil tem impactado especialmente cidades como Porto Velho, Manaus, São Paulo, Campo Grande, Goiânia e o Distrito Federal.
Desde o início de setembro, essas localidades enfrentam uma atmosfera saturada de fumaça, gerando preocupação com a saúde pública e deterioração da qualidade do ar.
Segundo informações do Copernicus, um programa de monitoramento terrestre da União Europeia, o Sudoeste da Amazônia lidera as emissões de gases de efeito estufa globalmente nos últimos cinco anos. Investigações da Polícia Federal estão em curso para determinar a natureza criminosa de alguns desses incêndios.
Yuri de Souza, biólogo residente em Manaus, Amazonas, descreve que a fumaça dos incêndios florestais tem prejudicado significativamente a visibilidade e a qualidade do ar na região, causando graves problemas respiratórios entre os habitantes.
A visibilidade já fica prejudicada logo de cara, é uma neblina de fumaça que faz o horizonte sumir, e ainda tem o problema da qualidade do ar, para pessoas como eu, que tem problemas respiratórios como sinusite, é mais difícil respirar sem ter crises de tosse intensa constantemente ele relata
Yuri também menciona que comunidades no interior como Manacupuru, Autazes, Careiro, Apuí, Novo Aripuanã e Lábrea sofrem mais por estarem próximas a áreas de mata virgem ou grandes terrenos.
Temo que a floresta não sobreviva; contar com atos governamentais que irão repreender e inibir grandes empresas do agronegócio é uma visão otimista, porém não muito real. Temo pelas mudanças climáticas que irão surgir pela ausência da floresta, para nós do Norte e para o resto do próprio país que depende dos ‘rios voadores’ produzidos pela floresta garantindo chuva para diversos estados; pelas dificuldades, falta de alimento, crises emergenciais nos municípios e pela perda grave da imensa biodiversidade que há aqui declarou o biólogo
A persistência da fumaça continua elevando preocupações sobre a qualidade do ar e saúde pública em várias regiões.
Cidades como São Paulo e Rio de Janeiro já emitiram alertas sobre “condições perigosas do ar”. A poluição também alcançou partes da Argentina, Bolívia e Paraguai.
O meteorologista Wanderson Luiz Silva da Universidade Federal do Rio de Janeiro explica que “o final do inverno e início da primavera é a época mais crítica para incêndios na porção central do Brasil. Isso porque essa região vem de várias semanas e até meses sem qualquer precipitação. Logo, qualquer ignição antropogênica pode causar grandes impactos”.
Ele acrescenta:
A esperança é que o desenvolvimento da La Niña em meados da primavera comece a trazer mais chuva para esta região. As chuvas tendem naturalmente a retornar a partir de outubro ou novembro mas esses sistemas podem sim modulá-los relata o meteorologista
“Novo normal”: enchentes, tufão e incêndios
As enchentes geradas pela tempestade Boris resultaram em mais de 20 mortes neste mês na Europa Central e Oriental. Fortes ventos e chuvas incessantes atingiram áreas da Tchéquia e Polônia com as piores inundações em quase três décadas.
No Sudão africano ocorreram grandes enchentes no mês passado que causaram o rompimento de uma barragem e devastaram mais de 12 mil residências em 10 províncias do país afetando mais de 30 mil famílias.
Portugal também enfrenta uma onda severa de incêndios que começou no último fim de semana levando o governo a declarar um estado de alerta por incêndio onde as chamas consumiram em três dias uma área equivalente à queimada nos três meses anteriores.
De acordo com Andrea Ramos meteorologista da Climatempo há dois aspectos principais das mudanças climáticas impactando os países:
O aumento gradual da temperatura média global causado pelos gases de efeito estufa e o aumento na frequência e intensidade desses eventos climáticos
O tufão Yagi deixou um caminho destrutivo no Vietnã com inundações e deslizamentos provocados pelo fenômeno resultando em mais de 100 mortes na última semana.
Eu diria que é um ‘novo normal’ que estamos vivendo agora no mundo uma vez que esses extremos ocorrem constantemente explica Andrea Ramos destacando também os eventos no Brasil relacionados ao anticiclone persistente desde abril
Ela adiciona: “No inverno geralmente ocorrem incêndios mas este ano se mostrou atípico com muito mais incêndios do que o esperado para a estação”.
Finaliza relatando: “Estamos vivenciando a influência de fenômenos climáticos como El Niño e La Niña afetando os sistemas das estações do ano.”
Esses fenômenos, El Niño e La Niña, são oscilações climáticas naturais que alternam entre o aquecimento e o resfriamento das águas do Oceano Pacífico Equatorial, influenciando significativamente o clima global.
Durante o El Niño, por exemplo, há um aumento na temperatura das águas do Pacífico, o que pode levar a um aumento das chuvas em algumas regiões e secas em outras. Já La Niña caracteriza-se pelo resfriamento dessas águas, geralmente trazendo padrões climáticos opostos aos do El Niño.
As implicações desses fenômenos são vastas e variadas.
Em anos de El Niño, por exemplo, podemos esperar impactos severos na agricultura devido à irregularidade nas chuvas, enquanto que La Niña pode intensificar as temporadas de furacões no Atlântico comenta Andrea Ramos
Essa oscilação não apenas afeta as condições meteorológicas, mas também tem impacto econômico significativo em setores dependentes do clima como a agricultura, a gestão de recursos hídricos e a energia.
Além disso, a especialista ressalta a importância da conscientização e preparação para estes eventos.
É crucial que governos e comunidades trabalhem juntos na construção de infraestruturas resilientes e na implementação de políticas que possam mitigar os impactos desses fenômenos extremos afirma
Ela sugere ainda que a educação ambiental deve ser ampliada para que as populações entendam melhor como suas ações cotidianas podem contribuir para grandes mudanças climáticas.
Finalmente, Andrea Ramos enfatiza que o monitoramento constante dos padrões climáticos e a pesquisa contínua são essenciais para prever e mitigar os efeitos adversos das mudanças climáticas.
Com tecnologia avançada e cooperação internacional, podemos não apenas entender melhor esses fenômenos complexos mas também preparar sociedades em todo o mundo para enfrentar esses desafios com maior eficácia conclui a meteorologista